Primeiro abre-se uma porta, do outro lado alguém nos espera com um sorriso e encaminha-nos até à sala onde vamos passar o dia. Depois das cadeiras colocadas em círculo aguardamos que cheguem...com desconfiança entram pela porta e encaminham-se para as cadeiras. Ficam bem juntinhos, evitando que algum de nós se sente no meio deles com receio do desconhecido. O nome é das primeiras palavras que dizem e neste momento tomamos consciência da sua importância. Temos o cuidado de os memorizar, os nomes que os representam. Dinâmicas, filme, debate, testemunho de vida são elementos que desenham este intenso dia. "Ai eu não vou contar nada da minha vida", dizem alguns. Chega o fim do dia, deixam a sala, alguns já nos olham e de forma meia insegura dizem-nos adeus. Existe a esperança de que a base dos pilares da ponte se tenham começado a erguer.
Voltamos num segundo dia. "Mas quem são vocês" perguntam," professores? formadores? ubuntus?”. Num papel cruzam-se linhas, na descoberta da identificação, da aproximação. "O quê? afinal temos mais coisas em comum do que pensávamos. Também danças?" Depois escrevem-se histórias a partir de uma imagem comum. "Eu preferi não participar nesta dinâmica". Porquê? perguntamos. "A história que estava a ser criada pelos meus colegas era muito parecida com a minha história real." Estão criados os grupos para que possam nascer os círculos de histórias, os pilares da ponte começam a ganhar forma. Este é um dos momentos mais maravilhosos. As palavras contam histórias pessoais, ganham forma dentro de cada um de nós. Um sentimento de libertação para quem conta e de responsabilização para quem ouve. Obrigada, é só o que podemos dizer em troca. Obrigada pela coragem. Obrigada por estares aqui.
"Então é hoje que começamos nos computadores? Podemos ficar com um dos computadores para nós?", no terceiro dia entram e já nos olham com a segurança de quem nos começa a conhecer. Outros dizem que estão com dificuldades em contar a história, precisam de nós, precisam de estar só connosco, precisam da nossa atenção. Já escritas em papel, gravam com a sua voz a sua história. No computador podem optar por usar imagens pessoais ou da internet. A escolha é deles. Com todos os elementos criam o vídeo da sua história ou do seu episódio relevante. "Não acredito que acabei! Há muito que não fazia um trabalho até ao fim".
Num quarto dia e de novo com as cadeiras em círculo, convidamos a partilharem os vídeos entre si. Novamente é uma escolha deles. Quando acontece é mágico. De olhares expectantes, lágrimas ou sorrisos ou até de cara tapada deixam transparecer as suas emoções e com eles crescemos juntos, com eles construímos pontes.
De Norte a Sul do país em diversas Escolas e outras Instituições procuramos deixar sementes. Guardamos connosco mais de 600 jovens, mais de 600 histórias de vida.
Porque acreditamos que a minha história pode mudar a forma como vemos o mundo.
Equipa Vidas Ubuntu